quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Vícios e Indícios


Vícios e Indícios

Ela entra na casa, mas não o encontra. A casa que não era lá muito organizada estava especialmente bagunçada naquele dia. O primeiro olhar é em direção à cozinha. Gavetas abertas e reviradas sugeriam que alguém esteve ali, procurando apressado por algo. “Teria sido um assalto?” pensou ela. A água da torneira quente corria intensamente, a fumaça que saía agilizou sua reação que a fez correr para fechá-la. E com o fim da água ouviu o sutil som da chama piloto se apagando no aquecedor de gás posicionado na área logo ao lado. “Estaria tomando banho?” pensa outra vez. 



Anda pela casa como quem tenta entender, observando os rastros. Agora na sala, a confusão é completa. Papéis amassados e pequenos pedaços de madeiras espalhados pelo chão. Cinzas completavam o cenário que já era bastante confuso. Meio atordoada junta algumas das lascas e não sabe identificar a procedência, mas nota que estavam parcialmente queimadas. “Não sei o que pensar!” pensa ela dessa vez. 




No quarto, o troféu empoeirado que há anos esteve no alto do guarda-roupa agora aparecia em pedaços pelo chão. Extremamente pesado, deixou a marca exata de quando atingiu o assoalho. A base de uma madeira escura justificava as tiras encontradas na sala. “Teria sido defesa pessoal” Disse ela em voz alta, olhando rapidamente a sua volta com medo de que bandidos ainda pudessem estar lá. Onde estaria a vítima? 


Moedas espalhadas. “Com certeza houve um assalto!” Conclui ela olhando para o pequeno pote de vidro, agora quebrado, que servia de abrigo para os trocos sem destino. 


Apesar de preocupada, resolve esperar por notícias antes de tomar qualquer atitude. Enquanto tenta por seus pensamentos no lugar ela vai recolhendo os objetos do chão. Tenta reparar os pequenos estragos pelo caminho. Até chegar novamente na cozinha, onde começa lavar a louça imediatamente. A pia transbordava de copos, pratos e panelas. Mas, o que lhe chamava a atenção, era a quantidade de embalagens plásticas, palitos de fósforos, queimados ou não, e pedaços de papel. Todos ensopados pela água residual no mármore. Irritada, e até enojada, vai jogando tudo que vê na pequena lixeira no canto direito da pia. E, foi justamente em um desses lançamentos que ela, distraidamente, ao levantar a cabeça leva um novo susto.


Lentamente, como quem desacredita no que vê, ela se aproxima do fogão. Joga um pequeno maço de palitos de fósforo molhados no lixo e cuidadosamente analisa mais aquele achado. Era um fogão simples, quatro bocas, sem acendedor automático. Mas, como que por um milagre, conservava a parte de vidro da tampa intacta, enquanto que, por outro lado, a extremidade de plástico branco no alto da tampa levantada encontrava-se completamente deformado. Derretido, devido ao fogo que evidenciava ter estado ali. Na parede, desenhos abstratos feitos pelo fogo completavam a cena. “Uma pequena explosão!?!?”. 


Rapidamente correu para a lavanderia buscar um pano, para uma tentativa inútil qualquer. Eis que ao esticar o braço em direção ao tanque ela se depara com a última e derradeira prova, que completava, enfim, a cena daquele crime: O aquecedor de gás, que possuía três mínimos visores de vidro, que serviam para certificar-se de que a chama estava acesa, agora tinha apenas dois. O vidro do visor central, em forma de losango, era o maior de todos, (mesmo assim era tão pequeno que não se podia passar o menor dos dedos) e agora estava quebrado. Uma das pequenas tiras de madeira, até a metade queimada, ainda encontrava-se posicionada, como uma estaca cravada, no centro do painel. Provando o ato incompleto e ineficiente do desesperado. Mais um desenho se fazia pelo fogo, agora no metal branco daquele aquecedor de gás com piloto automático. 


De repente, o barulho de chaves a faz saltar. Mais do que depressa corre em direção à porta, abrindo-a sem pensar. E lá estava ele, satisfeito, sorridente. Na mão esquerda um isqueiro vermelho, novinho em folha. E na direita, levanta vitorioso, um cigarro aceso, já pela metade: 


“Problema resolvido!” Diz o viciado.