Observando
as discussões fervorosas sobre os acontecimentos do Oscar desse ano, e eu adoro
ficar lendo os comentários das pessoas (amante do comportamento humano que sou),
posso dizer que, em disparada, esse foi o comentário que mais vi nas diferentes
redes sociais que olhei.
Deixando
aqui de lado as discussões, sobre racismo, as quais eu não tenho lugar de fala. Fiquei pensando, pensando mesmo, na régua que mede a violência que pode ou não
pode.
Todos são
contra violência, desde que...
Defendeu a
esposa, aguentou muita piada inconveniente, não aguentou tantos anos de abuso verbal,
muita pressão.
Ok. Tudo
isso é real. Mas eu só consigo pensar é que de todas as formas que ele poderia
ter se posicionado, se indignado e de todas as formas que ele poderia ter defendido
a esposa naquele momento ele escolheu um tapa na cara, uma agressão física.
E qual é a régua,
ou regra que diz que nesse caso pode?
Porque eu
fico pensando nos milhões de jovens que ele influencia entendendo que é bonito
pra caramba defender as suas esposas e suas namoradas com tapas, ou com socos,
mas aí não estão no Oscar, estão nas ruas, nas escolas, nos bares, mas aí o
comediante da piada ofensiva pode revidar, porque ele também foi agredido, mas
e aí... e aí... MAS E AÍÍÍÍÍ????
Se a minha dor, se a minha ofensa é liberdade para acertar a cara do outro, eu te pergunto, qual é a régua dessa dor? Uma dorzinha já vale? Ou é só a dor que envolve doença? Porque, eu tenho visto tantas dores, estamos vivendo em um momento tão difícil, as pessoas tão doloridas, que é difícil saber... olha a guerra lá!?
Quem dessas
pessoas ganha o “vale soco” e quem tem que saber que a sua dor não é suficiente
para violência? Afinal, somos todos contra a violência, certo?
Dá para
separar as violências? Dá para ser só MEIO contra a violência? Uma pergunta genuína
de alguém que não sabe ao certo o que pensar nesse quesito.
Não! Na
verdade, eu sei bem o que eu penso: Eu sou contra todos os tipos de violência!
É ser muito
radical isso? Tem violência que pode? Ou seja, a da piada não pode, mas a do tapa
pode?! Afinal, “sou contra, desde que...” Legítima defesa eu ouvi alguns
dizendo.
Eu não sei...
minha opinião é que havia muitas outras formas de revidar a violência da
piada, e aquela foi a pior. Não se resolve violência com
violência, não mesmo!
Percebam, eu não estou avaliando o tapa em si, estou refletindo sobre a reação ao tapa. E se
aconteceu, sim, muitas vezes acontece, me recuso a naturalizar ou justificar esse ato.
A gente evoluiu, as civilizações melhoraram para que a gente tenha mais escolhas, mais possibilidades de lidar com as situações.
E Will Smith, o grande favorito da
noite, tinha outras opções. Tinha uma voz potente naquela noite, mas escolheu
usar a mão.
Aí você vai
dizer: “Ah, mas na hora que o sangue ferve, se mexer com quem eu amo eu faço o
mesmo”.
Afinal, a
violência é relativa? Cada um sabe a hora que pode ou não? E se um dia for você que erra na dose da piada, pesa na “brincadeira”?
Aonde isso
pode parar? Peraí, vou perguntar pro Putin...
Claro que,
eu abomino esse tipo de piada. A brincadeira com a Jada Smith foi terrível e
ela merecia, sim, ser defendida ou se defender. Com certas coisas não se brinca,
e tem muitas formas de deixar isso claro!
É hora de
mudarmos as piadas, mas sem aceitar os socos.
Bem, não
vou entrar na questão cultural da forma de humor desses norte-americanos que
adoram piadas de mau gosto e, inclusive, tem programas em que a pessoa vai só
para ser agredida verbalmente.
Muita coisa
precisa ser revista e que esse tapa sirva para isso.
Mas, afinal,
qual é a régua? Quem vai poder bater e quem não?
E aí? Somos
ou não somos contra a violência?
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#oscar2022 #willsmith