segunda-feira, 28 de março de 2022

“Eu sou contra a violência, mas no caso do Will Smith...”

 
“Eu sou contra a violência, mas o Will Smith fez certo!!???”

 

Observando as discussões fervorosas sobre os acontecimentos do Oscar desse ano, e eu adoro ficar lendo os comentários das pessoas (amante do comportamento humano que sou), posso dizer que, em disparada, esse foi o comentário que mais vi nas diferentes redes sociais que olhei.

Deixando aqui de lado as discussões, sobre racismo, as quais eu não tenho lugar de fala. Fiquei pensando, pensando mesmo, na régua que mede a violência que pode ou não pode.

Todos são contra violência, desde que...

Defendeu a esposa, aguentou muita piada inconveniente, não aguentou tantos anos de abuso verbal, muita pressão.

Ok. Tudo isso é real. Mas eu só consigo pensar é que de todas as formas que ele poderia ter se posicionado, se indignado e de todas as formas que ele poderia ter defendido a esposa naquele momento ele escolheu um tapa na cara, uma agressão física.

E qual é a régua, ou regra que diz que nesse caso pode?

Porque eu fico pensando nos milhões de jovens que ele influencia entendendo que é bonito pra caramba defender as suas esposas e suas namoradas com tapas, ou com socos, mas aí não estão no Oscar, estão nas ruas, nas escolas, nos bares, mas aí o comediante da piada ofensiva pode revidar, porque ele também foi agredido, mas e aí... e aí... MAS E AÍÍÍÍÍ????

Se a minha dor, se a minha ofensa é liberdade para acertar a cara do outro, eu te pergunto, qual é a régua dessa dor? Uma dorzinha já vale? Ou é só a dor que envolve doença? Porque, eu tenho visto tantas dores, estamos vivendo em um momento tão difícil, as pessoas tão doloridas, que é difícil saber... olha a guerra lá!? 

Quem dessas pessoas ganha o “vale soco” e quem tem que saber que a sua dor não é suficiente para violência? Afinal, somos todos contra a violência, certo?

Dá para separar as violências? Dá para ser só MEIO contra a violência? Uma pergunta genuína de alguém que não sabe ao certo o que pensar nesse quesito.

Não! Na verdade, eu sei bem o que eu penso: Eu sou contra todos os tipos de violência!

É ser muito radical isso? Tem violência que pode? Ou seja, a da piada não pode, mas a do tapa pode?! Afinal, “sou contra, desde que...” Legítima defesa eu ouvi alguns dizendo.  

Eu não sei... minha opinião é que havia muitas outras formas de revidar a violência da piada, e aquela foi a pior. Não se resolve violência com violência, não mesmo!

Percebam, eu não estou avaliando o tapa em si, estou refletindo sobre a reação ao tapa. E se aconteceu, sim, muitas vezes acontece, me recuso a naturalizar ou justificar esse ato.

A gente evoluiu, as civilizações melhoraram para que a gente tenha mais escolhas, mais possibilidades de lidar com as situações. 

E Will Smith, o grande favorito da noite, tinha outras opções. Tinha uma voz potente naquela noite, mas escolheu usar a mão.

Aí você vai dizer: “Ah, mas na hora que o sangue ferve, se mexer com quem eu amo eu faço o mesmo”.

Afinal, a violência é relativa? Cada um sabe a hora que pode ou não? E se um dia for você que erra na dose da piada, pesa na “brincadeira”?

Aonde isso pode parar? Peraí, vou perguntar pro Putin...

Claro que, eu abomino esse tipo de piada. A brincadeira com a Jada Smith foi terrível e ela merecia, sim, ser defendida ou se defender. Com certas coisas não se brinca, e tem muitas formas de deixar isso claro!

É hora de mudarmos as piadas, mas sem aceitar os socos.

Bem, não vou entrar na questão cultural da forma de humor desses norte-americanos que adoram piadas de mau gosto e, inclusive, tem programas em que a pessoa vai só para ser agredida verbalmente.

Muita coisa precisa ser revista e que esse tapa sirva para isso.

Mas, afinal, qual é a régua? Quem vai poder bater e quem não? 

E aí? Somos ou não somos contra a violência?

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#oscar2022 #willsmith