segunda-feira, 28 de março de 2022

“Eu sou contra a violência, mas no caso do Will Smith...”

 
“Eu sou contra a violência, mas o Will Smith fez certo!!???”

 

Observando as discussões fervorosas sobre os acontecimentos do Oscar desse ano, e eu adoro ficar lendo os comentários das pessoas (amante do comportamento humano que sou), posso dizer que, em disparada, esse foi o comentário que mais vi nas diferentes redes sociais que olhei.

Deixando aqui de lado as discussões, sobre racismo, as quais eu não tenho lugar de fala. Fiquei pensando, pensando mesmo, na régua que mede a violência que pode ou não pode.

Todos são contra violência, desde que...

Defendeu a esposa, aguentou muita piada inconveniente, não aguentou tantos anos de abuso verbal, muita pressão.

Ok. Tudo isso é real. Mas eu só consigo pensar é que de todas as formas que ele poderia ter se posicionado, se indignado e de todas as formas que ele poderia ter defendido a esposa naquele momento ele escolheu um tapa na cara, uma agressão física.

E qual é a régua, ou regra que diz que nesse caso pode?

Porque eu fico pensando nos milhões de jovens que ele influencia entendendo que é bonito pra caramba defender as suas esposas e suas namoradas com tapas, ou com socos, mas aí não estão no Oscar, estão nas ruas, nas escolas, nos bares, mas aí o comediante da piada ofensiva pode revidar, porque ele também foi agredido, mas e aí... e aí... MAS E AÍÍÍÍÍ????

Se a minha dor, se a minha ofensa é liberdade para acertar a cara do outro, eu te pergunto, qual é a régua dessa dor? Uma dorzinha já vale? Ou é só a dor que envolve doença? Porque, eu tenho visto tantas dores, estamos vivendo em um momento tão difícil, as pessoas tão doloridas, que é difícil saber... olha a guerra lá!? 

Quem dessas pessoas ganha o “vale soco” e quem tem que saber que a sua dor não é suficiente para violência? Afinal, somos todos contra a violência, certo?

Dá para separar as violências? Dá para ser só MEIO contra a violência? Uma pergunta genuína de alguém que não sabe ao certo o que pensar nesse quesito.

Não! Na verdade, eu sei bem o que eu penso: Eu sou contra todos os tipos de violência!

É ser muito radical isso? Tem violência que pode? Ou seja, a da piada não pode, mas a do tapa pode?! Afinal, “sou contra, desde que...” Legítima defesa eu ouvi alguns dizendo.  

Eu não sei... minha opinião é que havia muitas outras formas de revidar a violência da piada, e aquela foi a pior. Não se resolve violência com violência, não mesmo!

Percebam, eu não estou avaliando o tapa em si, estou refletindo sobre a reação ao tapa. E se aconteceu, sim, muitas vezes acontece, me recuso a naturalizar ou justificar esse ato.

A gente evoluiu, as civilizações melhoraram para que a gente tenha mais escolhas, mais possibilidades de lidar com as situações. 

E Will Smith, o grande favorito da noite, tinha outras opções. Tinha uma voz potente naquela noite, mas escolheu usar a mão.

Aí você vai dizer: “Ah, mas na hora que o sangue ferve, se mexer com quem eu amo eu faço o mesmo”.

Afinal, a violência é relativa? Cada um sabe a hora que pode ou não? E se um dia for você que erra na dose da piada, pesa na “brincadeira”?

Aonde isso pode parar? Peraí, vou perguntar pro Putin...

Claro que, eu abomino esse tipo de piada. A brincadeira com a Jada Smith foi terrível e ela merecia, sim, ser defendida ou se defender. Com certas coisas não se brinca, e tem muitas formas de deixar isso claro!

É hora de mudarmos as piadas, mas sem aceitar os socos.

Bem, não vou entrar na questão cultural da forma de humor desses norte-americanos que adoram piadas de mau gosto e, inclusive, tem programas em que a pessoa vai só para ser agredida verbalmente.

Muita coisa precisa ser revista e que esse tapa sirva para isso.

Mas, afinal, qual é a régua? Quem vai poder bater e quem não? 

E aí? Somos ou não somos contra a violência?

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#oscar2022 #willsmith

sábado, 29 de maio de 2021

Mente x Dente

 Mente x Dente

“Qual é o seu maior medo?” Ela perguntou a si mesma.

Diversas atrocidades surgiram em sua mente. 

"Medo de espirrar na igreja" ela respondeu. Mas sorriu, sabendo que a pergunta era outra.

“Qual é o seu maior medo?” Insistiu.

Ela silenciou, como em raros momentos a mente silencia. E esse vazio mental que a gente tanto busca foi percebido, e ela aproveitou. Milésimos de segundos provavelmente, mas ela viveu intensamente aquela paz. Talvez porque ela soubesse que essa sensação estava prestes a terminar. E esse saber não estava na mente, estava no medo.

Só uma verdade tão dura poderia ser precedida por um silêncio tão vivo.

"Medo de não conseguir", a mente gritou. E aquele grito durou anos, com todas as lembranças de vergonhas e fracassos que a mente tinha guardado em algum lugar.

Mente que não mente, mas prega peças.

“Medo de não ser ouvida, de não ser percebida”, a mente continuou. Chega! Ela já estava satisfeita.

“Medo de a vida passar e os grandes feitos nem chegarem a ser feitos.” Mais um disparo.

“Agora é a hora de ir na igreja espirrar, né?!” Ela retrucou, sarcástica. 

Devia ter parado lá atrás. Interromper o Padre, com ecos virais em tempos de pandemia já é aterrorizante o suficiente.

O silêncio que antecede a verdade, a piada que distrai a ferida, o medo de não ser vista... tudo isso ela viu.

"Puff!" Soltou o ar pela boca, com um certo desprezo.

E agora, fora da mente, ela falou com a boca para que os ouvidos pudessem testemunhar: “Isabela, você não vai à missa. ”




segunda-feira, 16 de novembro de 2020

ERRATA "...e quando é a vida que erra? - Da série: Eu e a Vida

A Vida Não Errou


Por muito tempo pensei: e quando é a Vida que erra?

Até sobre isso escrevi! Em um texto antigo, da Vida, me queixei! 

Bem, só posso dizer que me enganei... A vida não errou.

Só agora percebi que estar naquele lugar, que só querer ver tempo passar, não era paz, nem contemplação.

Às vezes parar é andar para trás.

E foi lá, naquele lugar, que eu vi tudo mudar.

Mentira! Naquele momento eu nem podia enxergar.

“Ah! Vida volta já aqui, preciso agradecer, preciso dizer que entendi.”

A Vida não para nem para escutar. Trabalho nosso é gritar: “VIDA, EU PERCEBI!!!”

Ahhh e como eu percebi... Tempos atrás eu achava que ventanias eram só vento, hoje eu sei, que é momento.

Tempos atrás, eu abria a janela, e me sentia a contento.

Tempos atrás eu vivia em silêncio... talvez eu já soubesse, era só questão de tempo.

Tem uma frase que diz, que quando Deus fecha uma porta, ele abre uma janela... hoje eu digo, se você está feliz na janela, é melhor trancar a porta! Por que se você se distrair, a Vida te arranca pelos cabelos...

Falo por mim, ficava vendo o tempo passar, eu não percebi a Vida entrar.

Maravilhosa!

“Ah, Vida, era só terça-feira! ”

E quanto tempo foi necessário para eu me perder nessa ventania? Tempo algum, eu diria.

Eu só precisei respirar e, num segundo, a janela já era em outro lugar...

Só depois que o tempo passou, só agora que o vento acalmou, eu consegui entender...

Se houve um erro, e talvez nem tenha tido. Mas se houve um erro, esse erro foi eu querer mais! Já era demais!!

Sim, naquele momento era demais, demais até para perceber que era presente.

Era presente! Era presente, meu Deus! Era presente! Na época eu achei que era amor, mas era só presente.

Era tão grande que foi pesado demais para carregar. A gente sempre quer carregar os bons presentes, né?!

 Mas tem embrulho que só o tempo desembrulha. E quando abre a gente entende que é o presente que carrega a gente.

Eu não estava atenta! Achei que a Vida tinha me deixado ali,  mas ela me carregou e eu me perdi.

Tonta ainda, levou um tempo para que eu pudesse ver, um tempo para conseguir entender, a Vida não brinca. Com ela é tudo para valer.

Saibamos! Formigas são pequenas demais para perceber. E nessa vida, meu amigo, somos apenas formigas.

Mas não tenha medo, a Vida já sabe o que fazer. A Vida não erra!

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Esse texto foi escrito em Resposto ao texto "E quando é a vida que erra" - Leia aqui: 
https://cronicasdeumaisaaguda.blogspot.com/2015/05/da-serie-eu-e-vida.html

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Força, Fé e Fod@#-$e

Força, Fé e Fod@#-$e


Ah, não! Mas perae.. 

Não ter foco nunca foi uma escolha minha! 

Você não nasce e escolhe: "Ah! Sim, sim, com foco, por favor!" 

Ou: "Não, não. Foco!? Prefiro não, obrigada!"... 

 Eu fico vendo essas histórias de sucesso e elas sempre terminam a mesma lição de moral -  "Com foco e determinação..." Aff!!!

Eu não tenho culpa de gostar de muitas coisas. Só gostar, não! Eu gosto e sou boa em muitas coisas ... 

Mas daí tem aquela palavra. - Excelência - Ahh, eu odeio  essa palavra!! Eu não sou excelente em nada...! 

Mas também, eu não fiquei 17 anos treinando para dar a  tacada perfeita.  E nem nunca pratiquei piano 97 horas por dia! Não dá, né!?

Outra palavra que eu odeio é "sempre"... Ohhh palavrinha superestimada, hein!!!

 “Eu sempre soube o que eu queria da vida...”, “eu sempre me dediquei muito...” 

Às vezes eu não me dedico muito! Tô sendo honesta... Sempre é tempo para caramba, poxa! 

Minha mãe que gosta, vive dizendo: “Você sempre larga as coisas pela metade”... “Sempre pulando de galho em galho!”

Isso não é verdade! 

Esse final de semana, por exemplo, aprendi a fazer crochê... Nossa! Mandei bem demais! Fiz um bichinho... do início ao fim... Te mostro se você quiser! 

Terminei e foi ótimo... só praquele dia, né?! Crochê realmente não é para mim! Mas se eu continuasse, certeza que ia fazer sucesso! Se eu tivesse um pouquinho mais de foc....

 Ah! Fod@#-$e


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sonho, Imaginação, Rita Lee e Fernanda Young


    Eu sempre tive uma relação esquisita com meus ídolos. Bem ‘Fantástico Mundo de Bob’, sabe?!

    Escritora que sou, a imaginação aqui não tem muito limite, mas nunca fui de escrever ou tentar contatos, embora até tenha feito algumas vezes. O que eu gosto mesmo são das horas e horas que passo com eles, sempre sentados em algum lugar bem gostoso tomando uma cervejinha ou um chá, dependendo do convidado do dia (tudo dentro da minha cabeça, é claro!).

    O bom da imaginação é que não importa se estão vivos ou mortos, a conversa é igualmente fascinante... mas, o interessante é que recentemente me dei conta, com a Fernanda Young, que quando mortos, a sensação é que deixa de ser uma conversa imaginária... Parece que finalmente eles estão do outro lado ouvindo mesmo... Bob, né!? Eu avisei!!!

    Tem um outro lugar que eu, artista que sou, encontro com meus pares frequentemente... sim, nos sonhos!!!

    E confesso que é muito melhor do que numa simples imaginação. No sonho acontece coisas inimagináveis! É sério... A 'Bob' aqui te surpreenderia... A lista de artistas com quem eu já sonhei é imensa, sejam eles nacionais ou internacionais, famosos ou nem tanto, aqui, nessa caixola, não tem chapéu seletor!

    Tem alguns sonhos, no entanto, que conseguem me surpreender ainda mais... essa noite, por exemplo, eu estava comendo minha lasanha, de boa na livraria, quando eu vejo a Rita Lee vindo em minha direção! Ela deu risada quando viu meu susto. Eu procurava um lugar para deixar o resto da lasanha falando: "Que puta sacanagem! Conhecer a Rita Lee com a cara cheia de molho!"

    O que é super esquisito, porque eu não gosto de molho! Eu não contei para a Rita naquele momento, mas eu tinha molho até do dedão do pé!”. De fato, uma sacanagem!

    Especialistas de sonho, por favor me ajudem: O que significa molho de tomate no dedão do pé?

    Enfim, a Rita riu da minha cara, eu superei o molho e a gente começou a se divertir muito dentro de uma loja gigante de departamentos. A gente corria batendo nas coisas no setor da pescaria (especialistas, por favor, ajuda nessa parte também!). Depois fomos para o setor de livros. Rita pegou um livro qualquer, muito divertida, e falou que ia fazer uma “prank”, autografou no meio de uma página e deu um beijo na folha de batom vermelho... 

    Eu achei demais!!! E tentando ser uma "fã descolada" não peguei o livro! Mas pedi que ela fizesse o mesmo, em um livro para mim. E lá fomos nós procurar nas prateleiras, ela queria saber qual livro... e eu não achava... que aflição que dá quando a gente não acha algo em sonho né!? "O último da Fernanda Young" ...eu falei... “ainda não li! ” Sem falar nada ela começou a me ajudar a procurar, mas não achamos!

    Muitas coisas aconteceram e eu sabia que estava chegando ao fim a brincadeira e ainda não tinha uma foto com a Rita... então, numa decisão apressada, saí determinada, muito apressada, mas não conseguia correr (especialistaaaaaas!), em busca daquele livro já assinado! Eu precisava chegar no caixa antes da Rita ir embora, porque, na verdade, eu sabia, que se não tivesse uma foto, ninguém nunca acreditaria!!! Eu andei, eu andei, eu andei mais rápido e puff... acordei e perdi o sono...

    Ritaaaaa, fiquei sem a minha foto!

    Quando a Fernanda Young morreu, eu fiquei pensando nessa relação maluca com ídolos que a gente tem, pensando que eu nunca havia tentado falar com ela, que aquelas conversas nunca sairiam da minha imaginação. Hoje, a gente conversa bastante, mas talvez aí já seja mais uma loucura do que qualquer outra coisa.

    Eu fui na missa de sétimo dia dela, foi a melhor coisa que eu fiz. Cheguei cedo, fiquei ali observando aquele evento tão familiar e espetacular... meio perdida, fiquei ali olhando a igreja, sempre me encantam as igrejas! Em algum momento, sentada naqueles bancos, que fazem você pensar em muitas coisas, eu pensei sobre essa relação louca de ídolos e fãs, e sobre a oportunidade que eu nunca mais teria. Nesse exato momento, BUM, Rita Lee (agora de verdade) passa bem do meu lado! Meu Deus!!! 

    Isso eu nunca poderia imaginar... eu e ela aguardando a missa juntas... “Eu vi Rita Lee comungar por duas vezes, numa missa de domingo” me veio essa frase na cabeça na voz de Raul Seixas (isso acontece também) ... nem sei se era domingo! 

    Eu nunca pude abraçar ou conversar com a Fernanda Young, mas nesse dia ela me proporcionou abraçar Rita Lee... Agora, além de conversas incríveis, eu devo isso a ela também! Bem, acho que ídolos só são ídolos, porque são inacessíveis!

 

    Moral da história: Evite perder oportunidades, elas raramente voltam! Vou passar a vida arrependida de não ter pego aquele livro assinado!


 

PS.: Ministério da Loucura adverte: meus sonhos não são premonitórios em nenhum nível. Já sonhei com muitos famosos, Antes de Rita, foi Cláudia Raia, antes de Cláudia de teve Jennifer Aniston, e assim por diante...

PS2.: eu perdi a oportunidade no sonho, mas se alguém quiser me ajudar a encontrar a Rita Lee para eu finalmente tirar minha foto com ela, eu aceito! Obrigada!

sábado, 4 de julho de 2020

Sr. Deus, precisamos falar sobre Pandemia

Prezado Sr. Deus!

Lembra de mim? Isabela...2012... ?!?!

Venho através desta, novamente, retomar aquele assunto da última carta.

Vossa excelência, eu preciso perguntar: chegou a hora, né?

Já se passaram mais de três meses de pandemia aqui no Brasil e eu tive bastante tempo para avaliar os fatos. E a cada detalhe analisado, ia me aproximando mais de você.

Foi você, não foi? Fala a verdade! Ou será que o responsável pelos detalhes é aquele seu parente do subsolo?


Não... não...isso é coisa sua, não é?!

Vossa Magnificência deve estar se perguntando como eu descobri tudo. Bem, tenho que confessar que não foi fácil: inicialmente, aquela chuva de informações, estudos, teorias me deixaram bem confusa. Foi uma jogada de mestre!

Mas não precisou muito tempo para eu me dar conta:
quem conhece tão bem o ser humano para saber que só algo dessa magnitude iria atiçar o ego de todos a tal ponto de a ansiedade fazer com a que a cara se mostre antes das falsas intenções? 

Foi uma excelente retirada de máscaras em massa (eu só não sei se o uso das máscaras descartáveis foi descuido seu ou é coisa de pai que jamais nos deixaria completamente desnudos).

E isso tudo com um vírus! Um vírus! Tem coisa mais “old school”? Mostrando que os anos 1900 ainda estão aí para abalar...

Enfim, depois de ter passado por raiva, tristeza, medo, conformação... eu comecei até admirar um pouco esse tal de Corona. Afinal, que estratégia de marketing incrível! Parece até aqueles lançamentos modernos de funk: joga uma intriga no ar, deixa o povo doido tentando descobrir de quem é a culpa, acompanhando loucamente os “stories” e depois BOOM: música nova!! Genial! 

Receba aqui o meu aplauso, ó, MC God, tão milenar e tão atual! Conseguiu deixar quase a população mundial inteira na frente das telas com a pergunta que não calava: “é só uma gripezinha ou não é, Silvio?” Logo tive certeza: tem alguém por trás disso! Uau! 

Às vezes fico imaginando: a qualquer momento, abre uma cortina gigante e os 50.000 entram correndo e gritando: "acertou quem falou alergia!!"

O senhor já pensou em lançar algum curso de marketing digital?! 

Ó, Todo Poderoso! Eu sei o que você está pensando agora... te conheço! Perfeccionista, já deve estar aí encucado com o próximo plano, dessa vez englobando os excluídos digitais e aqueles que não puderam parar para que a gente ficasse em casa! Eu sei que você vai conseguir. Deixo aqui a provocação... Me surpreenda!

Mas não seja tão exigente consigo mesmo, você já abalou Bangu. Fenomenal! Um teste único para a humanidade toda!! Tipo um Vestibular do Mundão! 

Saquei tudo, bicho, uma doença que ninguém pode ver, mas todos podem pegar, o dinheiro não protege; se uma pessoa pega, só descobre dias depois e não tem a quem culpar e, ao contrário, se você usa um álcool certeiro e salva alguém, também não pode se vangloriar; jovens lutando pelos idosos e, finalmente, uma Copa do Mundo em que estão todos torcendo para o mesmo time: não importa qual cientista ache a vacina primeiro, o mundo inteiro comemora!

Que mira é essa, hein?!

Mas o que entregou mesmo o jogo, o ponto em que eu vi sua digital inteirinha, foi a coletividade. Ah, que sacada de mestre! Uma doença em que só cuidar de mim não adianta; para eu estar segura, todos precisam estar seguros; fez a gente perceber a cadeia; aprender a pensar no outro; cuidar do TODO, pois só o trabalho coletivo tem resultado. Boquiaberta aqui... não dá para ver, mas eu estou!


Mas agora, ó Dono dos Mistérios do Mundo, é com imensa tristeza que pergunto...
A gente não passou, né?! No teste... não rolou, né?! 

Sei que alguns países mandaram muito bem, mas a nota final vai ser pela média? Ou os brasileiros já estão fora??


E agora? O que o senhor pretende fazer com a gente? 
Qual o seu plano? Vai ter recuperação ou é fim do mundo direto???


Aguardo sua resposta.

Atenciosamente,


Filha
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Quer ler a Carta de 2012? clique aqui 
https://cronicasdeumaisaaguda.blogspot.com/2012/12/pedido-de.html
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#cronicasdofimdomundo #cronicasdavida #pandemia 

sábado, 19 de maio de 2018

Salto Alto

Salto Alto

 Eu estou aprendendo a andar. Sim, caminhar, um passo depois do outro...

 Irônico, eu já fui a tantos lugares e planejo ir a tantos outros, nunca percebi que é preciso, antes de tudo, saber andar.

 Me sentia tão forte. Não conseguia ver que, na verdade, eu rastejava pela vida, agarrada a tanto peso, que isso nem de longe era uma caminhada, era só transporte de carga.

 Eu queria voar e algo não combinava.

  Então resolvi parar e olhar. Reconheci tudo aquilo que não era meu e carregava na bagagem... que alívio devolver a cada dono seus pertences. Agradeci o tempo que fiquei com eles, aprendi muito, mas não podia mais, eu precisava voar.

  Ainda pesava. Percebi que muitas coisas, mesmo sendo minhas, também não podia manter. Essas foram difíceis de tirar. Encontrei muitos lixos, descartei. Mas também, encontrei ouro, sim, tantos ouros, e lutei por eles, eram meus. Tanto brilho não me deixava perceber, eram do universo, e com o universo precisavam ficar.

  Então fui soltando as moedas devagar. Vi algumas rolando para longe, onde eu não podia mais alcançar. Minha respiração começou a acelerar e o medo tomou conta... eu precisava delas. Como seria sem meu ouro?

- É ouro, Isabela! Não solta. Alguém falava. 

  Logo esqueci da caminhada, e corri, atrás do que eu pude salvar, algumas moedas perdi, não chorei por elas, mas as que ficaram eu segurei mais forte. 

  E assim fui diminuindo a bagagem. Não esvaziava, mas ficava mais leve. Fui pegando o jeito e esvaziando mais, era bom, mas na hora dos ouros, eu sempre escondia uns no fundo da mochila, por segurança, pensava.

  Foram anos assim, era bom, mas não era tudo... Não foi o suficiente. Se eu realmente quisesse voar, precisava ser tudo. E chegou um momento em que eu achei, realmente achei, que a mochila estava vazia. Eu procurei na bagagem, no que restou dela, procurei no fundo, não vi mais nada. O que pesava tanto ainda?

  Abaixei a cabeça para pensar e então pude ver, debaixo dos meus pés. Olhando lá do alto reconheci, eram dois grandes blocos de concreto preso embaixo de cada pé. Me deixavam mais alta, me faziam olhar por cima, orgulhosa de mim. Mas se eu quisesse mesmo caminhar longe, precisava me livrar desse peso. 

  Sacudi os pés, como criança que pisa em chiclete, e a cada movimento o concreto ia batendo e quebrando um pouquinho, me deixava instável, era estranho. 

  Percebi que não conseguiria mais caminhar com a altivez de um leão se o concreto não estivesse perfeito, quadrado. Como ia enxergar mais longe? Saber mais? Ser maior? 
  
  O concreto era uma conquista, eu mesma moldei, cada vitória, eu acrescentava uma camada e me sentia grande. Como deixar aquilo se esfarelar e ficar pelo caminho? Não consegui. 

  Aprendi a abaixar a cabeça e olhar para ele nos momentos em que pesava demais, mas em geral fingia que era meu amigo, meu suporte. Não era, eu queria voar e o concreto não deixava.

  A mochila estava vazia, os bolsos vazios, porque eu não consigo achar um jeito de caminhar com os blocos? Caminhei até aqui com eles, para que tirar agora?

- Pra voar, Isabela... pra voar! Uma voz dizia.

    Era hora de tirar de vez. 

  Tentei de todas as formas, não saía, que desespero, eu queria muito tirar. Pensei que meu pé e o bloco fosse uma coisa só. Achei que arrancar os pés era uma boa ideia e se eu cortasse no lugar certo ainda poderia andar, só com os calcanhares. Comecei a cortar, sim cheguei a cortar, meu pé não era bom. 

  Ai, ai, doía muito, eu não devia estar cortando no lugar certo. Olhava, mas em pé não podia ver direito. A cabeça erguida me mostrava o mundo, mas não meus pés. 

  Então me abaixei, mais, mais e, então, me curvei. Foi só aí que eu pude ver a linha, nada sutil, que me unia e me separava do concreto. Será que sai? 

  Decidi, o concreto sai. Então, me curvei totalmente, olhei bem de perto e, que alegria, agora via com clareza, o concreto era meu sapato... alto, firme, duro. 

  "Agora é fácil", pensei, era só trocar de sapato. 

  Tirei na hora, salvaram-se os pés. Quero correr descalço, me jogar, ir longe, mas ainda não podia...

  Eu, distraída, os guardei na mochila, e não pensava duas vezes antes de calçá-los, quando precisava. Tão boba, esqueci que a mochila também sou eu. 

  Eles precisavam ficar para trás, pensa que é fácil? Sem eles eu era pequena. Demorei para entender, que sendo pequena seria muito mais fácil voar. 

  Então parei de novo e dessa vez, sentada, me despedi dos saltos de concreto que por tanto tempo carreguei. Precisou coragem para levantar. 

  Eles ficam e eu sigo em frente, inteira. Os pés machucados vão levar um tempo para se recuperar. Ainda meio cascudos, meio quadrados, falta equilíbrio.

Não, eu ainda não posso voar. Estou apenas reaprendendo a andar. Tenho caído bastante, a mochila vazia, só parece vazia, aprendi que é sempre bom parar e olhar mais uma vez. Eu quero correr, mas preciso ter paciência. 

- Um passo depois do outro, Isabela

 A voz que fala é chata, ainda não posso confiar nela completamente, mas estamos aprendendo a conversar. Me sinto confiante, agora já sei o que fazer quando acumular concretos nos pés novamente...

  Me sinto tão leve, mas aprendi a caminhar com calma, pois às vezes erro na força do passo e me machuco. Aliás, se no caminho te acertei alguns golpes, peço desculpas, é porque eu ainda estou aprendendo a andar...
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