Mente x Dente
“Qual é o
seu maior medo?” Ela perguntou a si mesma.
Diversas atrocidades surgiram em sua mente.
"Medo de espirrar na igreja" ela respondeu.
Mas sorriu, sabendo que a pergunta era outra.
“Qual é o
seu maior medo?” Insistiu.
Ela
silenciou, como em raros momentos a mente silencia. E esse vazio mental que a
gente tanto busca foi percebido, e ela aproveitou. Milésimos de segundos provavelmente,
mas ela viveu intensamente aquela paz. Talvez porque ela soubesse que essa
sensação estava prestes a terminar. E esse saber não estava na mente, estava no
medo.
Só uma
verdade tão dura poderia ser precedida por um silêncio tão vivo.
"Medo de não
conseguir", a mente gritou. E aquele grito durou anos, com todas as lembranças
de vergonhas e fracassos que a mente tinha guardado em algum lugar.
Mente que
não mente, mas prega peças.
“Medo de
não ser ouvida, de não ser percebida”, a mente continuou. Chega! Ela já estava
satisfeita.
“Medo de a vida passar e os grandes feitos nem chegarem a ser feitos.” Mais um disparo.
“Agora é a hora de ir na igreja espirrar, né?!” Ela retrucou, sarcástica.
Devia ter parado lá atrás. Interromper o Padre, com ecos virais em tempos de pandemia já é aterrorizante o suficiente.
O silêncio
que antecede a verdade, a piada que distrai a ferida, o medo de não ser vista...
tudo isso ela viu.
"Puff!" Soltou o ar pela boca, com um certo desprezo.
E agora, fora da mente, ela falou com a boca para que os ouvidos pudessem testemunhar: “Isabela, você não vai à missa. ”