sábado, 29 de maio de 2021

Mente x Dente

 Mente x Dente

“Qual é o seu maior medo?” Ela perguntou a si mesma.

Diversas atrocidades surgiram em sua mente. 

"Medo de espirrar na igreja" ela respondeu. Mas sorriu, sabendo que a pergunta era outra.

“Qual é o seu maior medo?” Insistiu.

Ela silenciou, como em raros momentos a mente silencia. E esse vazio mental que a gente tanto busca foi percebido, e ela aproveitou. Milésimos de segundos provavelmente, mas ela viveu intensamente aquela paz. Talvez porque ela soubesse que essa sensação estava prestes a terminar. E esse saber não estava na mente, estava no medo.

Só uma verdade tão dura poderia ser precedida por um silêncio tão vivo.

"Medo de não conseguir", a mente gritou. E aquele grito durou anos, com todas as lembranças de vergonhas e fracassos que a mente tinha guardado em algum lugar.

Mente que não mente, mas prega peças.

“Medo de não ser ouvida, de não ser percebida”, a mente continuou. Chega! Ela já estava satisfeita.

“Medo de a vida passar e os grandes feitos nem chegarem a ser feitos.” Mais um disparo.

“Agora é a hora de ir na igreja espirrar, né?!” Ela retrucou, sarcástica. 

Devia ter parado lá atrás. Interromper o Padre, com ecos virais em tempos de pandemia já é aterrorizante o suficiente.

O silêncio que antecede a verdade, a piada que distrai a ferida, o medo de não ser vista... tudo isso ela viu.

"Puff!" Soltou o ar pela boca, com um certo desprezo.

E agora, fora da mente, ela falou com a boca para que os ouvidos pudessem testemunhar: “Isabela, você não vai à missa. ”