segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dia de entrevista


DIA DE ENTREVISTA


              Era uma quarta-feira, dia 09 daquele mês. Acordar inesperadamente gripada em uma cidade como Curitiba, não é algo tão inesperado assim. Com dores no corpo, abatida, congestionamento nasal e todos os outros sintomas se manifestando em mim fui trabalhar. Meu turno começaria às seis da manhã, o que para mim era perfeito, pois no dia seguinte seria a minha folga e a minha tão esperada entrevista de emprego. O emprego dos meus sonhos. E às 17 horas daquele dia estaria dentro de um ônibus. Ninguém sabia disso. Com medo de mais desapontamentos na família (muitas outras entrevistas) resolvi que enfrentaria esse processo seletivo em silêncio.

Quase 11 da manhã, meu corpo pedia arrego, meu olhar abatido e minha cabeça pesada já era mais do que perceptível pelos clientes. Uma visita inesperada. Meu pai entra na loja:
 “Filha, o que aconteceu?”

Com a voz mole e sem forças expliquei meu estado. Ele logo vai embora, penalizado e até um pouco assustado com minha situação. De repente me bate um peso na consciência, afinal mal consegui conversar com ele, que também não sabia da minha tão esperada entrevista.

Aquele era um bom momento para por em prática os conselhos que uma taróloga tinha me dado na tarde anterior. Fui pedir uma ajuda diferenciada para o grande dia. Após muito perguntar às cartas chegamos à conclusão que eu já tinha o que era preciso, era só questão de tempo. A grande descoberta era que eu precisava começar a agradecer meus pais por tudo que recebi. Que assim seja, alguns minutos depois que meu pai saiu da loja comecei a digitar uma linda mensagem de celular, nada típica de mim. Era algo mais ou menos assim: “Pai querido, só queria agradecer por tudo! Um beijo e te amo!!”

Com as malas prontas é hora de ir para a rodoviária. Uma viagem de um dia não precisa muitos preparos, a não ser a comida e a água do pobre cão Guga, que ficaria em casa me esperando. Mas mesmo assim, achei melhor deixar a chave do apartamento na portaria, para alguma eventualidade. Mas eu estava certa que iria correr tudo bem. Ir e vir sem ser notada. Assim, Não daria trabalho a ninguém e não teria que contar a ninguém sobre mais essa entrevista. Bom, foi assim que eu planejei.

...Mas foi assim que aconteceu:

Meu pai procurando por mim no trabalho...
- Oi! A Isabela está aí?
- Não, ela não estava bem e pediu para sair mais cedo!

Meu pai procurando por mim no meu prédio...
- Oi! Queria falar com a Isabela do 203.
- Ela viajou.
- Viajou?!?!?!
- Sim! Por acaso o senhor se chama Gino?
- Sim.
- Ah! A Isabela deixou um bilhete e uma chave para o senhor!
- Bilhete? Chave?
..... ele saiu com as pernas bambas.

No ônibus, 4 horas de viagem, dois antigripais com excelente ação sonífera. Só acordaria lá. Enquanto isso em Curitiba começava os telefonemas. O meu celular desligado. Minha mãe que estava em Campinas, também não sabia da minha viagem. E também tinha recebido uma linda mensagem de agradecimento. Ninguém sabia de mim. Claro, eu tinha saído escondida! Não era para ninguém saber!

Cheguei ao meu destino e ainda sonolenta liguei o celular. Susto! Nove ligações perdidas, tias, mãe, pai. Alguém morreu!!! Certeza que alguém morreu... pernas bambas. E lá de Camboriú começavam as ligações, celulares todos desligados. Mãe, pai, tias... eu nem deixava a musiquinha começar a tocar e já estava ligando para o próximo número. Pernas bambas! Era óbvio, celulares desligados, pois estavam todos na estrada indo para a cidade do falecido. Mas quem era? O que teria acontecido? Para aonde estariam todos indo?

Em Curitiba os preparativos para o velório já estavam a ponto de começar.

Eis que o celular toca. Minha mãe. Ufa! Não era ela a vítima.  Então era meu pai! Por que não conseguia falar com ele? (pensamentos a mil) Não atendi!  Malditas operadoras de celulares e seus deslocamentos.

Antes que eu pudesse retornar a ligação o telefone toca novamente. Era a esposa do meu pai. Mas eu não podia atender. Trágico, mas verdadeiro, tinha apenas três reais de crédito. Se atendesse qualquer ligação ficaria incomunicável (até por mais créditos). 

Eu retorno, e a musiquinha logo se intromete... Só podiam estar na estrada! Entrando e saindo de área... pensava eu.
Com as lágrimas já escorrendo...por quem quer que fosse! Tento ligar mais uma vez. Desolada, trêmula, sem reação,  minhas mãos já não respondiam mais ao meu comando. Não desliguei o celular. Dessa vez apenas deixei aquela voz automática falar. Eu não estava mais ouvindo, não estava mais ali. Então a mensagem mais uma vez entra dizendo: “Tã nã nããã, para completar essa ligação digite o DDD mais o cód...”

Eis que uma nuvem negra se desfaz....

Ahhhhhhhhhh o DDD e o código da operadora!!!!!!!!!!!!!!!! Como eu pude esquecer, eu estava em outro estado.

Eles não estavam com os celulares desliados. Rindo da minha burrice eu começo retornar as ligações:
- Oi, mãe! Tudo bem?
- MINHA FILHA ONDE VOCÊ ESTÁ?????? LIGA PARA O SEU PAI AGORA! – Gritando.
- Mas mãe tá tudo bem?????
- LIGA PARA O SEU PAI QUE ELE ESTÁ PREOCUPADO! (letras maiúsculas significa que ela ainda estava gritando) 

Ops! Acho que era hora de contar... 

- Oi, pai! Tudo bem?
- FILHA O QUE ACONTECEU COM VOCÊ??? VOLTA PARA CASA! POR FAVOR, NÃO SE MATE!!!!!!



Moral da história.................

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