quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Falcon

... eis que publico o primeiro capítulo da minha história com Falcon!!!
 CAPÍTULO I

Eu tenho um fusca. Um fusca chamado Falcon. Não. Ele não é um fusca normal. Ele tem aquela pintura azul opaca, sabe?! Mas um brilho no olhar indescritível. Quando eu digo olhar eu me refiro aos faróis mesmo, mas ele não gosta de ser comparado a carros. E quando eu digo que ele não gosta, eu me refiro a crises reais de mau funcionamento como manifesto. Na verdade eu acho que ele não sabe que é um carro. Ele já não é mais um carro como antes. Mas tenho certeza que logo que ele “nasceu”, em 1979, ele devia ser o mais charmoso da sua geração.
Eu não sei como foi sua trajetória no começo da vida, até porque eu só fui surgir sete anos depois dele. Mas fui vê-lo pela primeira vez no dia 24 de maio de 2008. Eu voltava de uma viagem com minha mãe. Não tem como esquecer esse dia, o dia que eu ganhei meu primeiro carro. Ou melhor, o dia que eu conheci o Falcon.
Eu até poderia dar uma enfeitada na história e dizer que o meu grande sonho era ter um fusca, por ser amante da espécie. Mas o fato foi que, quando eu pedi um carro para o meu pai, eu estava em uma fase da faculdade em que eu passava os três períodos do dia andando para cima e para baixo, atrás das aulas nos vários extremos do campus da universidade. Nossa rotina era realmente exaustiva. E estudante que é estudante nunca tem dinheiro. Então eu me lembro com perfeição das palavras de recomendação que eu usei naquele dia: “eu preciso de um meio de transporte, qualquer um, só, por favor, que não seja um carro a gasolina. E de preferência que não seja um fusca, eles consomem muito. Mas se for um fusca, que seja a álcool.” Eu já tinha tido uma experiência anterior com um fusca de uma amiga, e sabia o prejuízo que eles podiam dar. Então, confesso que, quando cheguei em Curitiba, depois de uma viagem a Campinas e lá estava meu pai me esperando no aeroporto com um fusca... a gasolina, satisfação não foi o meu primeiro sentimento.
Mas esse é o meu pai, não importa o que você fale, ele vai fazer o que ele achar que deve. E diante a felicidade dele, que comprou o carro em parceria com minha tia (e madrinha), não havia espaço para nada além de alegria. Aos poucos fui descobrindo pequenas peculiaridades, detalhes, alterações, que faziam daquele, um carro diferente, e se era diferente eu comecei a gostar.
Falcon tem os bancos e a parte interna das portas de couro preto. Ele era rebaixado (característica que veio a me dar prejuízos mais tarde), pneus tão largos que iam além da lataria. Lataria que estava em excelente estado por sinal. O volante pequeno, estilo esportivo e de acordo com o vendedor os bancos da frente de modelo procar, e até hoje eu não sei o que isso significa. É claro que, com o passar do tempo ocorreram algumas mudanças. Ali estava um carro velho, porém muito bem conservado. Condição que também sofreu algumas alterações. Não precisou muito, foi nos primeiros instantes de passeio, ainda nem tínhamos saído das mediações do aeroporto, que eu me apaixonei por ele.
O dia seguinte foi cheio... cheio de graxa. Passamos o dia no mecânico. Apesar de ele estar em boas condições, precisávamos ajeitar pequenos detalhes. Ele tinha que estar perfeito, (obviamente que na medida do possível), pois dentro de dois dias estaria enfrentando sua primeira viagem comigo ao volante. Primeiro pequeno detalhe: o freio. Que após muito conserto, continuou igual, e continua igual até hoje. Ninguém se importa mais, afinal é o freio do Falcon. O freio funciona bem, a não ser pelo fato de o volante torcer bruscamente para a direita nas freadas. Mas não se assustem isso é só enquanto o carro está frio, a partir da segunda ou terceira freada do dia começa a normalizar. Apesar de ficar um pouco mais perigoso em dias de chuva, em que a situação se agrava, esse foi um detalhe que eu me acostumei bem, hoje já quase não apresenta mais perigo.
Já era noite quando finalmente saímos da oficina mecânica, tudo estava “ótimo” agora. Só falta mais um detalhe, e esse sim eu diria importante: eu ainda não tinha dirigido ele. Decorrente do problema do freio, meu pai estava receoso em me deixar pegar no volante até que o mecânico pudesse resolver. É claro que, ele teve que se acostumar com a virada do volante também.
Lá estava eu, agora no banco do motorista segurando aquele pequeno volante, ansiosa por tudo que viria nos próximos dias. Demos várias voltas pela cidade, foram aceleradas, freadas, buzinadas. E, algumas horas depois, lá estava eu... Com torcicolo. Os tais bancos procar são muito baixos, e eu também. Devo ter dirigido umas duas horas com o pescoço esticado para conseguir enxergar a rua. Vocês podem imaginar quanto de fluído para massagem muscular eu não tive que usar naquela noite.
 A solução? Uma almofada, que continua lá, fazendo um papel imprescindível até hoje. Aquela dor, aquela almofadinha, foi a nossa primeira troca de afeto. O Falcon, como sempre, demonstrando seu carinho de forma bem característica. E eu, como sempre, dando o troco com humilhações públicas. Se o Falcon falasse, o que será que ele diria ao descobrir que agora era o carro de uma universitária?
Aqueles dias de folga da faculdade tinham sido bons, cheios de surpresas, mas estava na hora de voltar para Guarapuava. Cidade onde cursei minha faculdade, onde morei dezesseis anos com minha família e cinco sem ela.
Eu explico: pouco antes de eu completar três anos, depois de se separar do meu pai, minha mãe resolveu se mudar do Rio de Janeiro comigo e meu irmão para Guarapuava, junto com meus tios que já estavam com a mudança pronta. Dezesseis anos depois fomos para Curitiba, porém eu logo tive que voltar para cursar a faculdade, afinal não tinha passado em nenhum outro vestibular acessível. Agora morando com amigos, nem preciso dizer que esses cinco últimos anos foram bem mais divertidos, né?! E os três em que o Falcon estava junto foram incomparáveis. Realmente faculdade é uma época maravilhosa.
Era hora de partir. A viagem foi tranquila, pelo menos para mim. 250 km em quatro horas e meia. Mas eu não estava com pressa, já não posso falar pelas pessoas que estavam atrás de nós que, não sei porque, pareciam um pouco estressadas. A Br 277 é uma das mais perigosas do Paraná, eu estava dirigindo um carro completamente novo, pelo menos para mim, e com pouquíssima experiência em estradas. Nada mais natural que eu fosse cautelosa. O resultado? Mais dor no pescoço. Mas, superado isso, eu e Falcon estávamos ali, começando uma grande amizade. Eu e ele éramos uma troca, ele me passava uma segurança que só a experiência proporciona, e eu lhe devolvia a juventude que se notava ter passado.

2 comentários:

  1. Me permita dizer que Falcon realmente não é só um carro,antes o vejo como verdadeiro membro da família, o primo mais velho do Francisco que, logo ao ver a foto postada, o reconheceu! Um beijo pra você Falcon!

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  2. Francisco sem dúvida foi a única pessoa que expressou um amor sincero pelo Falcon à primeira vista! ahahhahha

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